Morro do Moreno: rampa de voo livre preocupa pilotos de avião no ES
Há um perigo rondando a rota de aviões que decolam e aterrissam no Aeroporto de Vitória. E não se trata de área de turbulência. A rampa do Morro do Moreno, em Vila Velha, com 274 metros de altitude, utilizada por praticantes de voo livre e parapente, contribui para que o espaço aéreo seja considerado de risco por pilotos e controladores de tráfego aéreo.
A reportagem do Folha Vitória recebeu queixas e denúncias de profissionais do setor de transporte aéreo. Eles se preocupam com a presença dos parapentes no caminho das aeronaves.
“Temos um problema sério. Há rotas que passam próximas depois que a nova pista do aeroporto passou a ser utilizada. Se atletas e amadores querem saltar por ali, as rotas aéreas terão que ser alteradas”, informa um controlador de tráfego aéreo, que trabalha no Aeroporto de Vitória e que pediu para não ser identificado.
“Recebemos avisos apreensivos da parte de pilotos que utilizam essa rota. Ali não se deveria haver saltos”, reforça.
Os pilotos, acrescenta o controlador, afirmam que muitos praticantes de voo livre acabam por ultrapassar a altura das torres de telefonia móvel, implantadas no alto do morro.
“Isso é muito arriscado, o que acarreta uma situação de risco para a segurança dos pilotos, tripulantes, dos atletas e de todos em geral”, desenvolve.
Acidentes são registrados no local. Recentemente, em 15 de novembro, um homem ficou preso na cobertura de um prédio na Praia da Costa, após saltar de parapente na rampa.
O Corpo de Bombeiros foi acionado. Ele ficou suspenso por uma corda no último andar do edifício até ser resgatado por moradores e policiais militares.
Em agosto de 2019, um homem ficou preso, dessa vez, em uma árvore na região de mata. Antes, em abril de 2019, também um casal passou por horas difíceis após perder o controle do parapente e ter as cordas do equipamento também enroscadas em árvores.
Local não é alvo de fiscalização. Veja o que dizem Aeronáutica e Prefeitura de Vila Velha
O controlador diz que os alertas dos pilotos são reportados à equipe de segurança do Aeroporto de Vitória. A assessoria do aeroporto explicou que os esclarecimentos deveriam ser procurados junto ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), ligado à Força Aérea Brasileira (FAB), da Aeronáutica.
A Aeronáutica, por sua vez, respondeu que “nas proximidades de Vila Velha (ES) não existe espaço aéreo regulamentado para atividades de voo livre, como parapente”.
Acrescentou, na nota enviada ao Folha Vitória, dez dias após as perguntas feitas pela reportagem, que ao tomar conhecimento de atividade aerodesportiva em espaço aéreo não destinado a este fim, o Comando da Aeronáutica reporta o fato aos órgãos de segurança pública locais visando impedir a prática irregular.
“As áreas destinadas para atividades de parapente são publicadas nas compilações de informações aeronáuticas, de forma a dar ampla divulgação dos limites aos aeronavegantes”, conclui.
Já a Secretaria de Meio Ambiente de Vila Velha, responsável pela gestão do Morro do Moreno, respondeu que toda atividade de voo livre no local é regulamentada e controlada pela ANAC e está proibida pelo órgão.
Disse ainda que o plano de manejo do Morro do Moreno, que se encontra em fase de licitação, irá determinar quais serão as atividades esportivas que poderão ser liberadas no local, a partir da Lei 6447/2021, que transformou a área verde em área de conservação. Afirma que cumprirá a exigência feita pela ANAC.
Diante da resposta da Aeronáutica, a prefeitura foi novamente questionada se fará a fiscalização no local. Até o momento, não houve resposta por parte da administração municipal.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) também foi procurado pela reportagem para dar mais informações sobre as reclamações dos pilotos. Assim que a resposta for enviada, a matéria será atualizada.
Federação de Voo Livre tenta transformar a área em própria para uso
A Federação Capixaba de Voo Livre (FCVL), que reúne as associações dos praticantes do esporte no Estado, foi procurada para se manifestar a respeito do uso da rampa.
Em seu site, inclusive, há uma matéria de abril de 2016, em que a FCVL se reuniu com autoridades de segurança aérea no Aeroporto de Vitória e decidiram por “suspender as atividades de voo livre do Morro do Moreno até que seja feita a regularização do sítio de voo no Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta)”.
O presidente da FCVL, Marx Loureiro, explicou que a entidade tenta junto aos órgãos de controle aéreo regulamentar a área.
“A rampa no Morro do Moreno é utilizada há mais de 20 anos. Ela não está homologada junto aos órgãos da Aeronáutica. O processo de homologação está em análise após tentativa e negativa do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle Aéreo (Cindacta) e pelo DECEA -Departamento de Controle de Espaço Aéreo (Decea), com base em Recife, responsável por essa região”, avisa.
Loureiro detalha os planos de uso da rampa. Para garantir segurança para aeronaves, os praticantes teriam como limite de altura máxima de voo o comprimento das antenas de telecomunicação e telefonia instaladas ali.
“Nesta região, temos uma SBR, ou Espaço Aéreo Restrito (S = South America / B = Brazil / R = Restricted) referente às antenas o que proíbe que as aeronaves voem a uma altitude inferior à altura das antenas. Neste caso, nosso objetivo é a regulamentação por uma área de vôo restrita com decolagem na rampa (abaixo das antenas e vôo no lift dos prédios (área de sustentação ) com pouso na praia”, explica.
Sobre os acidentes, o presidente diz que se trata de pilotos não conveniados. A federação, segundo ele, não tem poder de impedir o uso.
“Quem está voando por lá são pilotos sem habilitação. A federação não tem poder de polícia e nem de punir atletas não-federados. Os federados estão conscientes. Estamos em contato com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e com a Infraero sobre pessoas que estão voando em áreas proibidas. Entendemos que é um desrespeito. Decolar do Morro do Moreno é considerado crime”, reforça.
A federação alerta que, para segurança tanto dos praticantes quanto das aeronaves, é recomendado que o voo seja comandado por instrutor homologado. Há uma listagem no site da instituição.
Denúncias sobre uso irregular da rampa devem ser feitas junto à Anac pelo telefone 163 ou registrando pelo site da agência.
Saiba mais: onde é permitido decolar de parapente
De acordo com a Federação Capixaba de Voo Livre, atualmente, no Espírito Santo estão homologadas as seguintes rampas:
– Alfredo Chaves
– Baixo Guandu
– Barra de São Francisco
– Caravággio (Santa Teresa)
– Castelo
– Goiapaba Açu (Fundão)
– Mantenópolis
– Vargem Alta
– Pancas
– Serra das Andorinhas (Santa Leopoldina)
– Vila Valério
Especialista em moderação e revisão de conteúdo para jornais do consórcio de notícias, garante a qualidade editorial e a precisão das publicações, mantendo padrões rigorosos de precisão e excelência informativa.